Os riscos por trás do Crédito do Trabalhador: cuidado ao contratar o consignado
23/04/2025
- Comportamento financeiro
- Mídia
O Crédito do Trabalhador entrou em uma nova fase: a partir de 25 de abril, todos os bancos poderão oferecer essa modalidade diretamente em suas plataformas digitais. O trabalhador autoriza o acesso aos seus dados e, em até 24 horas, recebe propostas de crédito. Ele pode usar até 10% do saldo do FGTS ou 100% da multa rescisória como garantia. Caso desista, tem até sete dias para devolver o valor recebido.
Como funciona o crédito consignado com FGTS?
Essa inovação reforça a crescente acessibilidade do crédito consignado para trabalhadores do setor privado. Com a nova regulamentação, é possível contratar o empréstimo diretamente pelo e-Social, sem necessidade de convênios com instituições financeiras. No entanto, apesar da praticidade, surgem preocupações importantes sobre os impactos desse tipo de crédito.
O próprio Governo Federal orienta que os trabalhadores aguardem 24 horas para comparar propostas de diferentes instituições financeiras. Além disso, recomenda-se que a parcela do empréstimo não ultrapasse 35% da renda mensal.
Oportunidade ou armadilha? Cuidado com o Crédito do Trabalhador
O Crédito do Trabalhador está disponível para 47 milhões de brasileiros com carteira assinada, incluindo empregados domésticos e microempreendedores individuais (MEIs). A solicitação pode ser feita diretamente pela Carteira de Trabalho Digital.
O alerta do especialista
Segundo Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN), é essencial agir com cautela. Ele afirma que utilizar o FGTS como garantia de crédito representa um risco significativo.
“O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) deve ser uma reserva para momentos específicos, como aposentadoria, demissão sem justa causa ou compra da casa própria. Utilizá-lo como garantia compromete essa segurança, colocando em risco o futuro financeiro do trabalhador”, explica Domingos.
Além disso, ele destaca que o crédito consignado compromete diretamente uma parte da renda, o que pode se tornar um problema em caso de imprevistos, como uma demissão inesperada.
Crescimento do Crédito do Trabalhador no Brasil
A partir de 25 de abril, o crédito consignado poderá ser contratado diretamente pelos sites e apps dos bancos, sem intermediários. Hoje, mais de 80 instituições financeiras já estão habilitadas. A funcionalidade também estará disponível no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
Até 17 de abril, o Crédito do Trabalhador já havia movimentado R$ 7,4 bilhões, com 6,9 milhões de solicitações registradas. Desse total, 1,3 milhão de contratos foram efetivados, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
A importância do planejamento financeiro
Domingos chama atenção para outro ponto essencial: o impacto das parcelas no orçamento mensal do trabalhador.
“Ao comprometer até 35% do salário com o crédito, o trabalhador deve ter total consciência do impacto disso em seu dia a dia. Sem planejamento, ele pode enfrentar dificuldades sérias. Diferente de outras modalidades, o consignado não oferece flexibilidade. A parcela será descontada diretamente do salário, sem possibilidade de adiamento”, alerta o especialista.
Como contratar o Crédito do Trabalhador com responsabilidade
Para tomar uma decisão consciente, Reinaldo Domingos recomenda:
- Faça um diagnóstico financeiro: antes de assumir qualquer dívida, entenda sua situação atual. Se já estiver endividado, priorize a quitação das dívidas existentes.
- Não comprometa toda sua renda: ajuste seu orçamento para garantir que o restante do salário cubra as despesas essenciais.
- Evite trocar dívidas: usar o crédito para pagar outras dívidas pode ampliar o ciclo de endividamento.
- Use o consignado apenas em emergências: reserve esse tipo de crédito para situações excepcionais.
- Pesquise sobre a portabilidade: se já possui um consignado, compare taxas e considere a portabilidade para condições melhores.
- Atenção às taxas de juros: negocie sempre. Embora menores que em outras modalidades, as taxas podem variar entre instituições.
FGTS e multa rescisória: garantias que exigem cuidado
Outro ponto de atenção é o uso do FGTS e da multa rescisória de 40% como garantias. Em casos de demissão sem justa causa, o trabalhador pode ter parte da rescisão comprometida.
“Algumas instituições podem reter até 30% da verba rescisória, além de acessar o FGTS. Ou seja, o banco tem garantias sólidas, mas o trabalhador corre o risco de perder parte de seus direitos trabalhistas”, afirma Domingos.
Considerações finais sobre o Crédito do Trabalhador
Em um cenário de crédito cada vez mais acessível, a educação financeira é fundamental. O Crédito do Trabalhador, apesar de apresentar juros menores, exige responsabilidade. Antes de optar por essa modalidade, o trabalhador deve analisar seu orçamento, entender as implicações e buscar sempre agir com planejamento.
Sendo assim, com escolhas bem fundamentadas, é possível utilizar o crédito consignado de maneira segura, protegendo a saúde financeira no presente e no futuro.