Limitação do saque-aniversário do FGTS: uma medida necessária, mas ainda insuficiente
08/10/2025
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Quando o saque-aniversário do FGTS foi implementado, deixei claro que a medida poderia gerar mais riscos do que benefícios. Desde o início, minha preocupação era com a falta de preparo da população para lidar com dinheiro que representa uma garantia do futuro. Infelizmente, vimos rapidamente que muitos brasileiros não tinham a disciplina nem o conhecimento necessários para usar esse recurso de forma planejada.
Agora, o Conselho Curador do FGTS anunciou limitações importantes: valores e número de parcelas de antecipações, período de carência e restrição de frequência de contratação. Medidas corretas e necessárias para proteger o trabalhador do endividamento e do uso impulsivo, mas que, ainda assim, não resolvem o problema de raiz.
O que me preocupa profundamente é o uso desconectado da realidade que vimos nos últimos anos. Há casos de trabalhadores que antecipavam o FGTS para gastos com apostas e jogos online, em situações que colocavam em risco não só o fundo, mas a própria segurança financeira familiar. Esse tipo de comportamento mostra que, por trás da escolha de sacar o FGTS, existe um déficit de educação financeira e falta de controle. Ter dinheiro em mãos sem preparo é como dar água a quem está se afogando: aumenta o risco, mas não ensina a nadar.
O FGTS não é dinheiro comum; é uma reserva estratégica, criada para garantir proteção em momentos críticos, como demissão, aposentadoria ou aquisição da casa própria. Qualquer uso desse recurso precisa ser muito bem pensado. Não se trata de limitar oportunidades, mas de preservar segurança financeira e garantir que o trabalhador não comprometa seu futuro por soluções momentâneas ou por consumo impulsivo.
Mesmo com as novas regras, que restringem antecipações e limitam valores, cada saque deve ser avaliado com cuidado. Para quem está endividado ou superendividado, o uso do FGTS pode ser um alívio momentâneo, mas sem planejamento e disciplina, coloca em risco a estabilidade financeira futura. Para aqueles que têm equilíbrio financeiro, é preciso analisar o impacto do saque em objetivos de longo prazo, investimentos e preservação do patrimônio.
A limitação do saque-aniversário é uma medida acertada e necessária, mas não substitui a necessidade de focarmos na educação do comportamento financeiro, que continua sendo o pilar de proteção contra decisões impulsivas e descontrole. O FGTS é um ativo blindado, uma garantia de futuro, e deve ser tratado como tal. Qualquer uso deve ser consciente, planejado e alinhado a objetivos reais, evitando desperdícios ou decisões que possam comprometer a segurança financeira familiar.
Minha mensagem é clara: dinheiro que garante o futuro não é para gastos momentâneos. O controle, a disciplina e a educação financeira são as únicas formas de transformar esse recurso em segurança e na futura independência financeira, evitando que uma medida necessária como a limitação do saque-aniversário seja apenas um paliativo.
O FGTS cumpre seu papel quando o trabalhador entende seu valor e o usa com consciência. A limitação das antecipações é um passo importante, mas a verdadeira proteção está no preparo financeiro, na disciplina e na consciência sobre cada decisão envolvendo recursos que garantem o futuro.
Reinaldo Domingos é PhD em Educação Financeira, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira — ABEFIN e da DSOP Educação Financeira. Autor de mais de 100 obras, entre elas o best-seller Terapia Financeira.