Como o vício em jogos online está destruindo o futuro dos jovens brasileiros
30/04/2025
- Comportamento financeiro
- Educação
- Mídia
Por trás das promessas de riqueza rápida, o vício em jogos online se espalha entre crianças, adolescentes e jovens adultos, afetando gravemente a saúde mental, as relações familiares e o futuro profissional de uma geração. Existe uma saída: educação do comportamento financeiro desde cedo, com apoio das escolas e da sociedade.
O crescimento silencioso do vício em jogos online
Uma nova epidemia silenciosa avança pelo Brasil e atinge em cheio os jovens: o vício em apostas online. Com uma publicidade massiva, celebridades promovendo plataformas e a ilusão de enriquecimento imediato, as chamadas “bets” e outros formatos de jogos — como o popular “Tigrinho” — tornaram-se um fenômeno social preocupante.
O impacto é profundo: prejuízos econômicos, emocionais e educacionais afetam milhares de jovens em todo o país.
O acesso precoce e a falta de fiscalização
Entre adolescentes e jovens adultos, especialmente em comunidades de baixa renda, o cenário é alarmante. Segundo uma pesquisa do Unicef, 22% dos adolescentes entrevistados afirmaram ter apostado pela primeira vez antes dos 11 anos de idade.
A combinação entre acesso fácil e falta de fiscalização permite que menores usem CPFs falsos para acessar essas plataformas, mergulhando precocemente em um ciclo perigoso.
Como o cérebro reage às apostas
A dinâmica dos jogos online age diretamente no sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina — o mesmo neurotransmissor ativado por álcool ou drogas. Isso gera uma sensação de prazer momentâneo, mas que, com o tempo, exige estímulos cada vez mais intensos.
Essa dependência leva a uma compulsão progressiva, acompanhada por efeitos colaterais como:
- Ansiedade e irritabilidade
- Isolamento social
- Queda no desempenho escolar
- Abandono dos estudos
- Envolvimento com dívidas e até crimes
“A pessoa sempre acha que pode parar, mesmo quando já está trocando atividades essenciais por um comportamento doentio”, explica Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educação Financeira e da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN).
A falsa promessa do lucro fácil
Grande parte dos jovens é seduzida por influenciadores digitais que vendem o jogo como um estilo de vida glamouroso. No entanto, a realidade é bastante diferente. De acordo com o Instituto Locomotiva, 53% das pessoas apostam com o objetivo de ganhar dinheiro. Mas, para cada vencedor, existem milhares de perdedores.
“O apelo comercial das apostas é especialmente perigoso para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, afirma Domingos. “Alimenta-se uma ilusão de que existe um caminho curto para sair da pobreza — e esse caminho simplesmente não existe.”
Famílias e escolas também sofrem
O vício em jogos online não destrói apenas a vida do apostador. Famílias inteiras são afetadas. Casamentos desfeitos, filhos negligenciados, dívidas compartilhadas e até perdas patrimoniais que ultrapassam os R$ 200 mil já foram registrados.
O ambiente escolar também sofre os impactos. Professores relatam:
- Alunos dormindo em sala após noites apostando
- Abandono escolar
- Comportamentos agressivos ao serem impedidos de usar o celular
A escola, que deveria ser um espaço de construção de futuro, acaba vista como obstáculo por muitos jovens viciados.
Educação financeira: a única aposta segura
Diante desse cenário, a solução mais eficaz é educar os jovens financeiramente desde cedo. Isso significa ir além dos números e abordar a relação emocional com o dinheiro.
“Não adianta apenas ensinar a fazer contas. É preciso mostrar que o dinheiro é um meio, não um fim”, reforça Domingos.
A educação do comportamento financeiro deve trabalhar pilares como:
- Consciência sobre desejos e impulsos
- Reflexão sobre metas e valores pessoais
- Planejamento com base em propósito
Regulação e prevenção: um desafio coletivo
Com o aumento de plataformas irregulares, o governo brasileiro iniciou o bloqueio de sites e métodos de pagamento. Porém, essas ações, embora importantes, são paliativas.
“O problema só será resolvido quando houver políticas públicas de prevenção, apoio psicológico e educação financeira nas escolas”, alerta Domingos.
O futuro depende da educação
O vício em jogos online está destruindo sonhos, famílias e carreiras antes mesmo que comecem. Enquanto a propaganda do lucro fácil seduz, a realidade imposta por esse vício é feita de perdas, frustrações e sofrimento.
A única aposta segura que o Brasil pode fazer agora é na educação do comportamento financeiro — e ela precisa começar imediatamente.