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Crédito consignado: um alerta urgente para aposentados e suas famílias

07/05/2025

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O crédito consignado, amplamente divulgado como uma alternativa de empréstimo de baixo custo, se transformou, para muitos aposentados e servidores públicos, em uma verdadeira armadilha financeira — e, mais grave, em instrumento de fraudes bilionárias que atentam contra a dignidade de milhões de brasileiros.

Em 2023, o volume de empréstimos consignados liberados chegou a impressionantes R$ 90 bilhões. Esse número, por si só, já acende um alerta. Mas o cenário se agrava com a revelação de que parte considerável desses contratos pode ter sido firmada de forma fraudulenta, sem o consentimento dos beneficiários. De acordo com investigações em curso, cerca de R$ 6 bilhões em cobranças indevidas estão sob escrutínio da Polícia Federal, e a auditoria do TCU revelou mais de 35 mil reclamações formais em apenas um ano. Isso sem contar os inúmeros casos que sequer foram denunciados por falta de informação ou medo.

Estamos diante de um crime silencioso, mas devastador. Muitos aposentados só percebem o desconto irregular após meses, quando o prejuízo já está consolidado. E o pior: boa parte dessas vítimas sequer possui meios de se defender. É dever das famílias, em especial os filhos e netos, acompanhar de perto os extratos e contratos desses idosos. A probabilidade de que tenham sido lesados infelizmente é real.

O impacto vai muito além do financeiro. Esses descontos automáticos corroem o orçamento de pessoas que muitas vezes dependem integralmente da aposentadoria para custear alimentação, saúde e moradia. É o salário da sobrevivência sendo sugado, às vezes sem qualquer explicação.

Enquanto o Congresso articula uma CPMI para investigar o escândalo, e o governo busca barrar sua instalação alegando risco de desgaste político, milhões de brasileiros seguem sendo afetados por um sistema que deveria protegê-los. A troca recente no comando do Ministério da Previdência mostra que há reconhecimento da gravidade do problema, mas é preciso muito mais: transparência, punição aos responsáveis e, acima de tudo, educação financeira para prevenir que situações assim se repitam.

É fundamental destacar que o crédito consignado não é, por definição, um vilão. Quando utilizado com responsabilidade e clareza, pode ser um recurso válido para momentos específicos. No entanto, ele jamais deve ser adotado como solução recorrente, nem usado sem pleno entendimento das condições envolvidas. O desconto direto no benefício reduz a renda disponível e, portanto, exige planejamento rigoroso.

Além disso, práticas como o uso do nome do aposentado por terceiros devem ser terminantemente evitadas. São comuns os casos em que familiares ou até desconhecidos se aproveitam da boa-fé do idoso para contrair dívidas em seu nome. Isso é perigoso, ilegal e altamente prejudicial.

Reforço aqui algumas orientações essenciais antes de qualquer decisão sobre o consignado:

  • Avalie com atenção se o valor das parcelas comprometerá seu orçamento;
  • Nunca assine nada sem entender completamente os termos;
  • Verifique regularmente seu extrato de benefícios;
  • Suspeite de ligações ou mensagens oferecendo crédito “pré-aprovado” com urgência;
  • Procure ajuda profissional ou da Defensoria Pública em caso de suspeita de fraude.

O que vemos hoje é um retrato cruel de como a falta de educação financeira e de fiscalização eficaz pode abrir portas para abusos. Eu, como presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN) sigo comprometido em levar informação de qualidade à população, mas precisamos de um esforço coletivo para proteger nossos aposentados e pensionistas. Eles merecem respeito, não dívidas impagáveis e contratos que nunca pediram para assinar.

Reinaldo Domingos é PhD em Educação Financeira e está à frente do canal Dinheiro à Vista. Presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP Educação Financeira. Autor de diversos livros sobre o tema, como o best-seller Terapia Financeira.

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